quarta-feira, julho 27, 2016

SOBRE A OPOSIÇÃO DA IGREJA CATÓLICA AO TOTALITARISMO... FASCISTA

Ando há meses para fazer referência a um livro de 2014 que no ano passado foi editado em Portugal: «O Papa e Mussolini - A História Secreta de Pio XI e a Ascensão do Fascismo na Europa», de David Kertzer. 
Folheei o volume e esta passagem em concreto chamou-me a atenção:
«Em 1938, o papa Pio XI dirigiu-se a um grupo de visitantes no Vaticano. Havia algumas pessoas, disse ele, que argumentavam que o Estado deveria ser todo-poderoso - "totalitário". Tal ideia, continuou ele, era absurda, não porque a liberdade individual fosse demasiadamente preciosa para ficar rendida, mas porque "se há um regime totalitário - de facto e por direito - é o regime da Igreja, porque o homem pertence totalmente à Igreja.»
Por sorte encontrei este excerto nesta página, em Inglês: https://www.theguardian.com/books/2014/mar/06/pope-mussolini-secret-history-rise-fascism-david-kertzer-review

Confirma-se aqui o que ando a dizer há anos - o credo do Crucificado que se apoderou da Europa é intrinsecamente totalitário, é até a raiz directa do totalitarismo em solo europeu: da intenção declarada de controlar a totalidade da vida humana, sobretudo na sua intimidade e mais profundos pensamentos, o que origina inevitavelmente, pela lógica própria das coisas, o autoritarismo e a intolerância, intolerância esta que ainda no século XIX era promovida pelo próprio papa como valor positivo, o que já aqui foi referido. Só por isso a Igreja se opôs ao Islão e, em muito menor medida, ao Fascismo: porque no mesmo espaço não é possível a existência de dois totalitarismos diferentes e a Igreja nunca gostou de concorrência...
Tudo isto é incompatível com o verdadeiro espírito europeu, não surpreende que a Cristandade, que a princípio se divulgou notoriamente mais no oriente e no norte de África do que entre os Povos da Europa, esteja agora a morrer por todo o velho continente enquanto cresce no terceiro-mundo. Os Europeus e seus descendentes não estão, de modo algum, em decadência, por mais que os habituais profetas da desgraça alertem contra a alegada decadência ocidental. O que está em decadência é boa parte daquilo que se convencionou, em determinado contexto, considerar como padrão e sinal de civilização superior, de acordo com uma visão conservadora e cristã da vida. Esta carga, sim, está a morrer, e precisamente por isso é que a Europa se torna cada vez mais fiel a si própria, pelo menos se/enquanto não for iminvadida por uma nova colonização oriunda de fora do continente, nova colonização essa que, se triunfar, ficará precisamente a dever-se, acima de tudo, ao vírus do universalismo militante que a Cristandade divulgou entre os Europeus. Para já, a reacção da massa popular europeia a esta iminvasão está notoriamente a crescer, como se constata no avanço gradual e verdadeiramente democrático - isto é, decidido pelo povo - dos seus partidos nacionalistas.