quarta-feira, junho 14, 2017

EUA QUEREM CRIAR COM O CURDISTÃO UM «SEGUNDO ISRAEL»?

O presidente do partido não parlamentar turco Pátria, Dogu Perincek, falou com a Sputnik sobre uma série de questões geopolíticas actuais, tais como a importância dos laços turco-russos para a estabilidade na região, a iniciativa dos curdos iraquianos para conduzir um referendo de independência e a crise qatarense.
Ao comentar as relações turco-russas em desenvolvimento, bem como o seu impacto positivo sobre a região em geral, Perincek afirmou: "As relações entre os dois países ampliaram-se até uma parceria, tanto a nível regional como global. O carácter da cooperação entre a Turquia e a Rússia adquiriu um carácter estratégico, o que desempenha um papel altamente positivo para ambos os lados", afirmou o político à Sputnik Turquia.
Falando da crise relacionada com o Qatar, o político sublinhou: "A situação em torno do Qatar reflecte a polarização, a confrontação que existe no mundo hoje em dia. Os EUA fizeram a Arábia Saudita e uma série dos países do golfo Pérsico voltarem às costas ao Qatar."
"Porém, países como a Turquia, a Rússia e o Irão opõem resistência a esta frente. Como contrapeso ao bloco americano, criou-se uma frente euro-asiática forte, por isso se pode dizer que os EUA já perderam esta batalha", sublinhou.
Perincek frisou que a iniciativa do Governo Regional do Curdistão iraquiano de realizar um referendo sobre a independência é um fruto dos esforços do "bloco de forças encabeçado pelos EUA e Israel".
"À medida que os EUA tentam compensar o enfraquecimento das suas posições na região, ficam cada vez mais presos num pântano de contradições. Os EUA visam realizar o plano para criar um segundo Israel ao apoiarem os Curdos e a sua ideia de um Estado independente. Entretanto, não há hipótese que este plano se concretize, porque os EUA enfrentam resistência de tais forças como a Turquia, o Irão, a Rússia e o Iraque", explicou o político turco.
Segundo expressou Perincek, a política externa dos EUA na região pode ser considerada como uma "aventura no Médio Oriente" que resultou em perdas no valor de 16 triliões de dólares para o país e não trouxe nenhuns dividendos, sendo que este facto foi confirmado pelo próprio presidente dos EUA, Donald Trump.
"Já que o 'Estado profundo' tomou Trump de refém, este ficou incapaz de realizar o seu plano para a política externa. O principal objectivo de Trump era uma política mais passiva no Médio Oriente e, em compensação, um aumento de pressão sobre a Alemanha e a China", pormenorizou.
Porém, disse o político, as elites americanas não permitiram que Trump o fizesse. Ou seja, dentro dos EUA trava-se uma luta política interna feroz, enquanto Washington continua perdendo a sua influência na região. "O facto dos EUA terem escolhido o Qatar como alvo não é nada surpreendente. Amanhã, a própria Arábia Saudita pode-se tornar nesse alvo", precisou.
"Neste contexto, os passos da Turquia ganham cada vez mais peso. Ancara já estabeleceu uma parceria com a Rússia e agora precisa de estender a mão da amizade à Síria para resistirem juntos às acções dos EUA", assinalou.
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Fonte: https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/201706148644426-ao-apoiarem-curdos-eua-visam-realizar-plano-de-criar-segundo-israel/

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Que haja uma elite norte-americana a obrigar Trump a dar alguma continuidade da política intervencionista norte-americana no Médio Oriente é uma possibilidade que a confirmar-se verdadeira de modo algum surpreenderia. Já Alexandre del Valle fazia em 1999 notar («Guerras Contra a Europa») que a geo-estratégia norte-americana elege a Rússia como grande inimigo e tudo faz para a cercar, incluindo a intervenção pesada no Médio Oriente, alvejando aí os países mais desenvolvidos e de mais elevado potencial, nomeadamente o Irão e a Síria. De um modo ou doutro, neste caso particular dos Curdos a actuação norte-americana leva água ao moinho do ideário nacionalista e favorece potencialmente o mundo branco, uma vez que apoia a causa de um nacionalismo árico, etnicamente relacionado com a Europa e politicamente afim quer da Europa quer de Israel, o que convém substancialmente aos mais lídimos interesses ocidentais.