quarta-feira, maio 29, 2013

DA IMUTABILIDADE DIVINA E DA POSIÇÃO DIANTE DOS DEUSES

Se qualquer um pensa que a doutrina da inalterabilidade dos Deuses é razoável e verdadeira, e depois se admira como é que Eles se alegram com o bem e rejeitam o mal, se enfurecem com os pecadores e se tornam propícios quando são aplacados, a resposta é a seguinte: Deus não Se alegra, pois que o que se alegra também se entristece; nem Se enfurece, porquanto a fúria é uma paixão; nem Se apazigua com as oferendas – se assim fosse, Ele seria conquistado pelo prazer.
É ímpio supor que o Divino é afectado para o bem ou para o mal pelas coisas humanas. Os Deuses são sempre bons e fazem sempre bem e nunca mal, estando sempre no mesmo estado e iguais a Si próprios. Simplesmente, a verdade é que, quando somos bons, estamos junto ao Deuses - pela nossa semelhança em viver de acordo com a virtude, nós unimo-nos aos Deuses, e quando nos tornamos maus, fazemos dos Deuses nossos inimigos – não porque Eles estejam irados contra nós, mas porque os pecados impedem que a luz dos Deuses brilhe sobre nós e põe-nos em comunhão com espíritos do castigo. E se por rezas e sacrifícios conseguimos o perdão dos nossos pecados, não aplacamos ou mudamos os Deuses, mas pelo que fazemos e por nos voltarmos para o Divino, curamos a nossa própria maldade e portanto usufruímos novamente da bondade dos Deuses. Dizer que os Deuses se afastam do mal é o mesmo que dizer que o Sol se esconde dos cegos.



In Dos Deuses e do Cosmos, Salústio, século IV.