terça-feira, novembro 15, 2005

O TRABALHO DE HÉRCULES QUE AINDA NÃO SE FEZ



O filme sobre Hércules que a TVI transmitiu na tarde do dia 13 de Novembro, vai na senda da maior parte das outras produções relativas ao património espiritual clássico (greco-romano, mais grego que romano).

Começa logo por ser uma película dirigida ao público mais jovem, o que, só por si, é especialmente sintomático relativamente ao que as elites dominantes no Ocidente pensam a respeito da espiritualidade antiga - uma coisa para crianças.

Esta postura não surpreende quando se sabe que essa elite ou é cristã conservadora ou é de Esquerda liberal e ateia (ou, pelo menos, agnóstica, que está mais na moda) - nem uns nem outros têm qualquer interesse em glorificar seriamente qualquer figura religiosa ou mais ou menos religiosa da Antiguidade pré-cristã.

De facto, todos os filmes feitos em Hollywood sobre o passado greco-romano, ou têm ao centro um herói judeu (Ben-Hur) ou então são produções de série B, «filmes de aventuras», isto é, cinema menor, do qual é exemplo o «Hércules» dos anos sessenta interpretado por Lou Ferrigno.

Hollywood a fazer filmes sérios representando os heróis mitológicos e as Divindades clássicas? Nunca, excepto numa ou noutra produção para a televisão, de qualidade aceitável mas sem grande publicidade em seu torno (caso do Ulisses interpretado por Armand Assante).

Hollywood a fazer filmes sérios representando figuras mais ou menos sagradas de culturas antigas? Sim, desde que se trate de películas sobre os Dez Mandamentos, David e Golias, Moisés, Jesus Cristo...

E ainda se o mal fosse só esse... mas há algo mais a apontar no filme transmitido anteontem: o ateísmo e a anti-religião afirmada de modo ostensivo e militante, juntamente com a bastardia individualista e anti-etnicista.

Ao longo da película, fica a impressão que a raiva do herói é para com as instituições religiosas e para com toda e qualquer espécie de herança. Mais do que uma vez se ouve o imberbe Hércules a dizer que «Eu sou eu, não sou o meu pai!», indiferente ao facto de ser filho de Zeus ou do seu inimigo Anteu.
Claro que cada um é cada qual e não o seu pai (nova expressão que agora inventei), isso nunca esteve em causa. Mas o facto de o herói afirmar isto de várias maneiras naquele contexto, diz tudo sobre o desprezo e mesmo o ódio que o argumentista que lhe forneceu o guião tem por tudo o que seja herança ancestral e salvaguarda das identidades nacionais. É que topa-se à distância qual é o intuito da repetição de tais declarações.

Ocorre esta cena depois de o herói ter declarado que era o seu próprio sacerdote. É bonito, é até muito pagão à maneira europeia (os mais antigos sacerdotes indo-europeus eram os pais de família), mas, no contexto, pretende fazer passar a mensagem de que a religião organizada é uma treta (ideia muito na moda, inclusivamente no seio de muitos neo-espiritualistas).

E no fim, é um poeta, e não um sacerdote, quem celebra o casamento, sem ritos ancestrais, apenas com as suas bonitas palavras...

Para contrariar o que aqui é dito, talvez alguém se lembre de evocar o exemplo do «Tróia», feito por um realizador alemão qualquer - eis um filme sério e muito propagandeado pelos média.

Pois sim - um filme que transpira ateísmo e repulsa pela Religião do princípio ao fim, como já aqui demonstrei, há uns tempos.


Enfim, talvez um dia apareça algum Mel Gibson, Peter Jackson ou Terry Gilliam a querer fazer um filme sério e de grande ambição sobre a Ilíada, a Odisseia ou a Eneida... ou, porque não, as aventuras de Hércules.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

El Hercules de Brad Harris (atleta norte-americano)

16 de novembro de 2005 às 15:49:00 WET  

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