domingo, maio 16, 2004

O CAVALO DE TRÓIA

Bem me parecia que era catita demais para ser verdade. Fazerem um filme decente sobre a Ilíada? Isso é que era bom.

Tecnicamente, nada tenho a apontar ao filme. Primeiro, porque não sou um entendido em cinema, depois porque me pareceu que, a esse nível, tudo estava bem: trabalho dos actores (mesmo que o perfil do rosto de Bradd Pitt não seja muito apropriado, dado o seu aspecto negróide, mas enfim), guarda-roupa, cenas de batalha (a técnica de combate de Aquiles é bela de se ver, nomeadamente o seu salto de ataque lateral), cenário, etc..

Quanto à história e diálogos, as alterações ao texto original chegam a ser vergonhosas. O mais grave de tudo é a forma por vezes sarcástica e mesmo insultuosa com que os dois maiores heróis do filme (que coincidência, logo os dois heróis principais...) se comportam, em palavras e actos, para com os Deuses.
Já topo de ginjeira a mentalidade que está por detrás desse tipo de coisas: a ideologia dos auto-proclamados «rebeldes anti-tradição», pretensos detentores Do «sentido crítico», únicos possuidores da verdade, que se lançam como incansáveis percevejos contra a religião (a total ausência dos Deuses no filme «Tróia» já quer dizer algo, quando se sabe que, na Ilíada, texto original, há Divindades por toda a parte, actuando a todo o momento de um modo decisivo...), esforçando-se por convencer tudo e todos de que o culto aos Deuses é coisa de fracos e que os Fortes & Inteligentes, Lda. ou nos Deuses não acreditam ou, se acreditam, não Os respeitam.
Por isso, é bom que se saiba: não é verdade que Aquiles tenha destruído um templo de Apolo, não é verdade que tenha cortado a cabeça a uma das estátuas de Apolo, não é verdade que o Deus não se tenha vingado logo do rapto de uma filha (Criseide) de um dos Seus sacerdotes (Crises) e aliás, a peste que o Deus lançou sobre os Gregos mostrou-se de tal modo destrutiva, que foi mesmo por isso que Agamémnon teve de libertar Criseide e, para não ficar desfavorecido neste episódio, resolveu tirar uma escrava a Aquiles, e foi aí que começou a inimizade entre estes dois homens.
Também não é verdade que Heitor mandasse umas bocas desrespeitosas aos Deuses. Isso foi TUDO inventado pelo autor do filme.
Convém também saber que Odisseus (Ulisses) se introduziu de noite na cidade de Tróia, disfarçado, para levar o Palladium (estátua de madeira da Deusa Atena), uma vez que tinha tomado conhecimento que uma profecia vaticinava o fim da cidade se esta perdesse o referido objecto sagrado, caído do céu

Pelo meio, há também uma mensagem anti-nacionalista: o «mau da fita», Agamémnon (outra deturpação tipicamente humanista, que herda isso do judaico-cristianismo, pois que, na Ilíada, não há encarnações do mal, todos lutam pelo que querem, com mais ou menos ética, mas fazendo sobretudo o que podem), falando de Aquiles, com quem não se dá bem, diz, mais que uma vez: «Aquiles não respeita pátrias nem bandeiras, nem combate por Nações, mas só por si próprio».

Está-se mesmo a ver onde é o que autor quer chegar com isto: o mau da fita, Agamémnon, só quer é guerra, por isso é que ele lidera a Nação grega... o herói Aquiles, é um «puro», um «jovem irreverente» que, mesmo sendo imensamente violento, não passa ao fim ao cabo de um moço com bons sentimentos, selvagem mas bonzinho lá no fundo, que não se dá bem com Agamémnon porque é demasiado independente, ama a sua liberdade (ai que lindo!...) e é por isso que não combate por Nação alguma...

Pois...

É tão descarada e primariamente politicamente correcto que até mete nojo.

Ao fazer-se passar este filme como uma versão fiel da obra de Homero, o que se faz de facto é introduzir um cavalo de Tróia nas mentes das pesssoas a respeito do que pensavam os antigos dos seus Deuses.

O autor, Wolfgang Petersen, conseguiu verba suficiente para edificar esta construção cinematográfica. O filme é de Hollywood.

Ora, mesmo correndo o risco de parecer paranóico, tenho de perguntar: quem é que manda em Hollwood e no resto da América?
Judeus, cristãos devotos, esquerdo-liberais.
Os Judeus, nunca respeitaram as religiões dos outros povos.
Os cristãos, herdaram esse desprezo judaico pelos Deuses dos outros povos e transformaram-no em intolerância militante, motivo pelo qual sempre perseguiram e tentaram destruir todos os paganismos do mundo.
Os esquerdo-liberais, herdando, em parte, esse ódio cristão aos povos pagãos orgulhosos, também não têm qualquer respeito pelas antigas culturas europeias, pelo menos no que diz respeito ao seu aspecto bélico e épico (cá em Portugal, os intelectuais de esquerda sempre quiseram fazer crer que Camões lírico era melhor do que Camões épico, de tal modo se sentem desagradados pelo épico...) e, sobretudo, com o pendor ateu que sempre os caracterizou, aproveitam toda e qualquer oportunidade para baterem na religião. E batem em todas as religiões e mais algumas (pouco ou nada no Islão, o que é curioso... e sintomático), inclusivamente na do Nazareno.

Só que essa, a da cruz, se tem detractores, também tem protectores, como Mel Gibson, que executou uma obra cinematográfica de se lhe tirar o chapéu, fiel ao texto, falada nas línguas da época retratada.

Quando haverá um Mel Gibson pagão, que se atreva a realizar um mega-filme que seja o mais fiel possível à obra de Homero, que represente o esplendor divino dos Deuses e Deusas da Hélade, raiz da Europa, que o faça com actores Gregos falando o Grego antigo?