quarta-feira, fevereiro 25, 2004

LIDERANÇA E CULTURA

Correm no Expresso uma série de artigos relativos à importância da independência nacional face ao poder castelhano. São artigos inteligentemente patrióticos, bem escritos... mas, pelo pouco que li, parecem dar demasiada importância à questão da liderança. Da liderança do País.

Como se Portugal só pudesse ser salvo quando chegasse ao seu «trono» um messias ou um esquadrão de iluminados prontos a mostrar o caminho da Luz, da Verdade e da Vida a toda a Nação.
Ora, isto é um paternalismo que só conduz ao atraso do povo, à passividade e à subserviência.

Não é nos líderes que reside a força maior e mais importante: é nas pessoas, individualmente, unidas em nome da sua família maior, que é a Nação.
Um líder não pode vigiar cada cidadão e impedi-lo de deitar lixo no chão; se fizer leis duras e violentamente punitivas para quem deitar lixo no chão, sem mentalizar primeiro o povo a respeito da importância de não sujar as ruas, o que sucederá é que uma minoria avantajada irá empenhar a mioleira para descobrir novos modos de encardir o solo pátrio sem ser apanhada pela bófia - as cidades só ficarão e permanecerão limpas se cada cidadão optar, livre e conscientemente, por não atirar detritos para o chão.

É uma questão pura e simplesmente cultural - nada tem a ver com lideranças.

Não é credível pensar-se que os países mais desenvolvidos do que Portugal tiveram sempre e continuam a ter líderes muito melhores do que os dos portugueses. É que os líderes, ao fim ao cabo, saem do seio do povo e não passam de um reflexo do mesmo. Neste contexto, dizem os Ingleses que cada povo tem o governo que merece.