sexta-feira, dezembro 26, 2003

ACIDENTES, BRANDOS COSTUMES, DESLEIXO

Continuam a morrer em barda, nas estradas, os portugueses...

Um país onde morrem mais pessoas em acidentes de condução do que numa guerra, não é um país de brandos costumes. Num país em que há tanta gente guia automóveis como quem guia tanques de guerra - por cima de tudo e de todos - não se pode dizer que predomine a moderação e a suavidade de carácter.

Mas essa, quanto a mim - que nem conduzo -apenas uma das causas do problema, a menos importante.

O maior causador dos desastres automóveis é, pelo que me parece - uma visão de alguém que está de fora - é o desleixo.

O desleixo, o maior inimigo da Nação.

É o desleixo que faz com que o nível educacional dos Portugueses esteja tão baixo, pois que a cultura exige um mínimo de rigor mental; é o desleixo que faz os Portugueses serem pobres; é o desleixo que faz com que certas coisas se limitem a ir andando, em vez de se resolverem num dado momento.

É o desleixo que faz com que os portugueses, nas estradas, pensem que dá tempo para ultrapassar, e depois não dá e é choque frontal com o outro que vinha na mão contrária, e pensem que, porque não está ninguém a ver, podem passar com o vermelho, ou podem pisar o traço contínuo, ou podem fazer assim uma manobra jeitosa, esperando que a bófia não esteja a ver, ou não ligue...


Se calhar, também é o desleixo que «enriquece» a língua... talvez porque, alguns portugueses, quando tentam traduzir certa palavra estrangeira para Português, agarram nela e aportuguesam-na, em vez de irem ao dicionário ver se já existe uma tradução portuguesa do conceito expresso pela palavra estrangeira que querem traduzir.

Vagamente relacionado com isso, estará um exemplo de algo que poderá ser uma manifestação de falta de cultura, se não me engano muito... ontem, ao final da tarde, vi no canal de História - por cabo - um documentário sobre Júlio Verne, nome este que o locutor português dizia «Vârne». Vârne? Vârne é mais a pronúncia inglesa do que portuguesa. Em Portugal, sempre se disse «Vérne». Terá isso acontecido porque o locutor, nunca tendo ouvido falar de Júlio Verne, se limitou a adoptar a pronúncia anglo-saxónica «e mai' nada»?